O QUE É A AYAHUASCA?

Ayahuasca é uma bebida psico-ativa feita pela cocção de duas espécies vegetais, com ramas do cipó Banisteriopsis Caapi (Jagube) e folhas da árvore parente do café, Psychotria Viridis (Chacrona) e utilizada em cerimônias ou rituais religiosos.

É conhecida por diversos nomes, Huayna Cápac “pelos Incas”, Santo Daime, Vegetal, Hoasca, Oasca, Yagé, Ayahuasca – vinho dos espíritos, das almas, dos mortos ou dos ancestrais e outros nomes.

A antiguidade do uso da Ayahuasca se perde na pré-história. De uma utilização regional milenar, centrada na Amazona ocidental, seu uso tem modernamente se expandido em toda a América do Sul, primordialmente, graças à preservação do uso pelos indígenas, apesar da incessante repressão cultural desde os primórdios da colonização.

Muito do que se pratica e conhece sobre Ayahuasca vem da observação e conhecimento empírico acumulado pelos indígenas. Esta infusão milenar, originária das tribos indígenas amazônicas, começou a mostrar-se para o mundo através de duas doutrinas fortemente cristãs: o Santo Daime, fundado por Irineu Raimundo Serra, e a União do Vegetal (UDV), criada por José Gabriel da Costa. Ambos receberam os ensinamentos da bebida sagrada diretamente dos índios e as repassaram à raça branca de maneira efetiva a partir dos anos 80.

Por algum tempo, no início de ambas as doutrinas, viu-se proibida a utilização — ainda que sacramental — da bebida. Porém, pouco tempo depois, após alguns testes químicos, não se comprovou nenhuma propriedade alucinógena, resultado contrário ao experienciado por seus usuários.

Graças a essas contradições, formou-se em 1985 um grupo de pesquisas que passaria dezessete anos debruçados sobre a bancada do laboratório, realizando teste após teste, até comprovar de uma vez por todas, em 2002, que ayahuaska nada tinha de alucinógeno.

De todos esses anos de pesquisa, o que se descobriu é que o princípio-ativo da bebida, a DMT, ocupa 0,02% do preparado. A dose mínima para que uma substância que contenha DMT seja taxada como droga leve, podendo assim ser controlada por lei, é de 2%, ou seja, 100 vezes mais que o contido na ayahuasca. Além disso, outras descobertas contribuíram muito para a liberação dos rituais com tal bebida. Uma delas é o fato de que o número de conexões neurais dos usuários aumenta substancialmente após algum tempo de uso, o que é extremamente benéfico para sua saúde mental e, conseqüentemente, física.

Dada essa explicação química inicial, esclareço agora algumas coisas sobre o efeito do chá em termos práticos e espirituais.Num rito ayahuasqueiro, a princípio toma-se 100ml do chá, sendo que sua Dose Letal (DL) é de 7,8l, muito próxima da DL de suco de maracujá, que é 8,2l e da de água, que é de 10l. Dose Letal é o máximo de uma determinada substância que um homem adulto consegue ingerir de uma só vez sem riscos de morte.

O efeito começa a ser sentido cerca de 20 minutos após a ingestão da bebida, e tem inicio por um profundo relaxamento físico, onde cada um de seus músculos se solta, dando lugar a uma estranha sensação de se estar flutuando. Algum tempo depois começam as visões. Pouco a pouco a imagem normal à sua frente vai tomando um formato elástico e pouco palpável. Cores as mais diversas podem começar a chegar ao seu campo de visão agora, e logo você começará a ter experiências profundamente místicas 40 minutos depois de iniciado o ritual com ayahuasca, todos que a ingeriram já estão sob o efeito e suas experiências estão atingindo o auge místico.

A ayahuasca lhe ensina exatamente como os grandes mestres espiritualistas orientais. Não há pecado algum no mundo. Não há um Deus que se ocupe de castigar sadicamente a raça humana por todos seus erros. O único que pode castigar-se é o próprio homem.

Uma vez que se percebe isso, não há mais motivos para culpa, é isso a que os ayahuasqueiros chamam cura. Não é o espírito presente na ayahuasca que cura, senão você mesmo, em estado de consciência ampliada, como os que se conseguem após anos de treino altamente disciplinado de meditação.Alguns questionam se não é apenas uma troca de vícios, mas isso pode ser facilmente esclarecido com informações encontradas logo acima.

Ayahuasca não vicia. Isso porque, para uma substância viciar, é necessário que o utilizador passe a ingerir mais dessa substância do que seu organismo é capaz de absorver, e a porcentagem de 0,02% de DMT contida na bebida torna impossível tamanha ingestão desprovida de morte. Não obstante, com o passar do tempo a dose necessária para se atingir o efeito diminui, ao contrário do que ocorre em um vício, onde são necessárias doses cada vez maiores para se obter o mesmo estado experienciado na primeira utilização.

INOCUIDADE DO CHÁ

Entre 1991 e 1993, a Universidade Federal de São Paulo (antiga Escola Paulista de Medicina), Universidade de Campinas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade do Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA), Universidade da Califórnia, Universidade de Miami, Universidade do Novo México e Universidade de Kuopio (Finlândia), foram convidados por iniciativa de uma das igrejas sincréticas Brasileiras, a UDV, para gerenciar uma pesquisa cientifica, intitulada “Farmacologia Humana da Hoasca, chá usado em contexto ritual no Brasil”.

A pesquisa foi articulada pela direção central do Centro de Estudos Médico-Científico da União do Vegetal, órgão interno da instituição, que reúne seus adeptos profissionais de áreas relevantes. Os resultados constatam que o chá Ayahuasca é inofensivo à saúde.A pesquisa está publicada em importantes revistas científicas como: Psycho-pharmacology, em texto assinado por J. C. Callaway (PhD), e The Journal of Nervous and Mental Disease”, em texto de Charles S. Grobb (PhD).Este estudo se deu em Manaus e envolveu nove centros universitários e instituições de pesquisa do Brasil, Estados Unidos e Finlândia, financiados pela fundação norte-americana Botanical Dimension. A pesquisa começou a ser planejada em 1991 e aconteceu em 1993.

Consistiu em aplicar testes laboratoriais e questionários, dentro dos procedimentos científicos padrões, em usuários da Ayahuasca. Eram pessoas de faixas etárias variadas, do meio urbano e rural, freqüentadores assíduos dos cultos. Os testes foram também executados em não usuários servindo de grupo de controle.A avaliação psiquiátrica conduzida pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Centro de Referência da Organização Mundial da Saúde, não encontrou entre os usuários pesquisados nenhum caso de dependência, abuso ou perda social pelo uso da Ayahuasca, aspectos presentes em usuários de drogas proscritas pela legislação.

As conclusões comparativas são surpreendentes. A primeira delas, confirmando a afirmação de que o chá é inócuo do ponto de vista toxicológico: não se constatou “nenhuma diferença significante no sistema neurosensorial, circulatório, renal, respiratório, digestivo, endócrino entre os grupos experimentadores e de controle”.Nos testes psiquiátricos, foram aplicados os recomendados pela ortodoxia científica, o CIDI (Composite International Diagnostic Interview), com os critérios do CID 10 e DSM IIIR, e o TPQ (Tridimensional Personality Questionnaire). Constatou-se que os usuários da Ayahuasca, comparativamente aos não usuários (grupo de controle) mostraram-se mais “reflexivos, resistentes, leais, estóicos, calmos, frugais, ordeiros e persistentes”. E ainda: mais “confiantes, otimistas, despreocupados, desinibidos, dispostos e enérgicos”. Exibiram também “alegria, determinação e confiança elevada em si mesmo”.

Os examinandos apresentaram desempenho significativamente melhor que os do grupo de controle quanto à capacidade de lembrar as palavras na quinta tentativa. Foram melhores também em “número de palavras lembradas, recordação tardia e recordação de palavras após interferência”.Embora o protocolo de estudo não permitisse separar os benéficos atinentes ao contexto religioso dos efeitos do chá em si, esta pesquisa confirme a impressão geral – decorrente da sua utilização milenar – da inocuidade do chá. De fato não se conhece caso de lesões e doenças provocadas pelo seu uso “in natura”, sem adulterações ou misturas.